Summer 78

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Chuva

Fecho o guarda-chuva, abro a porta, um ser minuscúlo e ternurento envolve-me as pernas, sacudo a chuva, agacho-me e acaricio-o. O único que não se atreve a julgar-me, é irracional. Dispo o casaco, digiro-me ao escritório. Planeio o meu estudo, ligo o computador e tiro a maquilhagem social. Dirijo-me ao não sei quê, à procura do não sei que mais, sem nunca me encontrar. Destruo-me um pouco mais. Será que algum dia me vou tornar numa dessas raparigas que agora consultas, numa dessas vendidas a troco de nada? Será que vou aprender a valorizar o que hoje não tem valor? Criar distância do amor, da observação, da compreensão, da humanização e valorizar bens supérfluos, bajulices e sorrisos oferecidos? Quantas vezes cliquei no teu nome, procurei por ti? Quantas foram as vezes que me levaram a uma mais? Uma mais em que silenciei e ainda silencio quem sou. Incrível é a forma que tomaste, a forma que no fundo sempre tiveste. Fez sempre parte da inocência. O mar de rosas vermelhas que apenas eu via não era mais que um depósito de sangue cruelmente derramado... mas, ainda assim não existe culpa, afinal de contas as minhas mãos apareceram manchadas, eu assim o optei. Mas não escolhi amar-te, escolhi? Recebi o que tinhas a dar-me. Agora nada é o que sobra. No meio de todas as rasuras, descrições e observações, vai-se o tempo e estou sempre longe no momento. Ainda vivo no passado? Não acordo no presente. Nem sei o significado do futuro. Carpe Diem? Já chega. O presente é o futuro? Não basta. A saudade do teu abraço asfixia-me.

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