Summer 78

sexta-feira, 11 de março de 2011

Reviver-te

Um acesso rápido, uma paralesia, dois pedaços de sufoco e subitamente aproxima-se, profunda como a lembro. Nos olhos carrega o desespero do vácuo que traz a sua alma. Trémula, num gesto de todo escusado, levo as mãos à razão para impedi-la de regressar. Dirige-se a mim num passo apressado sem hesitação. Afunda-me o peito com um simples sussuro, tão naturalmente como se de ficção se tratasse, numa tentativa de despertar-te em mim. Recorda-me imagens escritas, músicas cravadas no eterno, palavras místicas, sinceros desejados sorrisos e ternos inocentes carinhos. Teletransportando-me a um passado que não mais me pertence, passado que não consigo tornar presente, onde vives-te quem fui, onde me embebia de ti e criavamos um nós. Já mais não creio em ti, perdoa-me. Não posso cometer o mesmo sabor, o único que me torna no que sou. És demasiado para te ter em mim, só te quero feliz. Se pudesse descrever a afeição que tenho por ti, diria mágoa, e num murmúrio talvez gratidão. É tudo o que tenho e consigo dar, não sei outro jeito. Aterra-me saber que te tenho gravado numa cassete e que não te posso reviver. Devo deixar quem foste, quem não és mais. Talvez lhe chame cobardia, mas a minha humanidade não me permite avançar de outra forma. Tu, tudo lhe ensinas-te, sempre lhe acreditas-te, protegeste-a incondicionalmente, ensinaste-a a voar. Tu, que a deixas-te ao abandono, roubaste-lhe o abraço, levaste-lhe a pureza, ensinaste-me o ódio. Tu, foste um profundo afecto no seu mais puro estado e, és uma memória que me traz tristeza. Uma ferida fechada que teima em se abrir e por vezes o inverso, uma profunda cicatriz que consigo sentir, julgo eu, já não tenho certezas. Já não sei se sei o que é sentir, acho que me perdi entre mim e ela. Foste uma utopia, um sonho dilacerado, veneno e por fim… um imenso buraco negro a que teimo chamar saudade.

A ti, uma vez mais.

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